O recente engajamento sustentável das empresas, representado por iniciativas no campo ESG (ambiental, social e de governança), é muito bem vindo porque coloca um holofote no tema e traz mais participantes para o debate. Mas essa discussão precisa sair da “espuma” para se tornar um compromisso concreto com a redução das emissões de carbono.
A avaliação é de Cristiano Teixeira, CEO da Klabin, e embaixador do Pacto Global da ONU para iniciativa climática. A Klabin é a única empresa brasileira que participa do COP 26 Business Leaders, um grupo criado para engajar o setor produtivo nas metas de redução de carbono, tema da 26ª conferência da ONU sobre mudanças climáticas que ocorre em novembro em Glasglow.
“Meu papel na COP 26 é levar o maior número de empresas possíveis tendo aderido ao compromisso de neutralidade de carbono até 2050”, disse o executivo em entrevista para a Bloomberg Línea no Brasil.
Para Teixeira, o Brasil precisa deixar a armadilha do “berço esplêndido” da cobertura vegetal privilegiada e da matriz energética mais limpa, apoiada nas hidrelétricas e no combustível a álcool, para deslanchar iniciativas de compromisso com a redução das emissões.
ESG é business
O executivo lembra que ser sustentável não foi uma escolha, mas sim a forma de assegurar a perenidade e a competitividade da Klabin, que lida diariamente com as florestas de eucalipto para desenvolver fibras de papel e celulose. Nativo da Oceania, o eucalipto precisa de todo um manejo responsável para se manter produtivo e competitivo.
A empresa, que já reduziu 64% suas emissões desde 2003, foi a primeira no país (e no Hemisfério Sul) a obter ainda em 1998 a certificação FSC, que leva em consideração o manejo responsável de recursos naturais e o bem-estar dos trabalhadores. Atualmente, a Klabin tem 100% das florestas certificadas com o selo FSC, que tem no board ONGs como o Greenpeace.
As conferências do clima (COPs) da ONU foram criadas para discutir como retardar os efeitos do aquecimento da Terra. É basicamente um fórum dos governos, mas que tem a participação de líderes empresariais do setor privado que ajudam a implementar essa agenda. “Fazemos reuniões mensais com vários CEOs de empresas globais. No final, para que serve a Cop-26? Para a gente definir, como planeta, qual vai ser esse processo de redução das emissões: vai ser por meio da taxação ou por um comércio de carbono? Ou seja, vou poder vender o meu carbono para quem é negativo [polui mais] ou vou ter que pagar sobre a minha emissão?”, pergunta o executivo.
Brasil na COP 26
Teixeira reconhece que o governo brasileiro deveria ter uma atitude mais pró-ativa na COP 26, mas discorda da tese de que não está interessado ou que minimize essa agenda. “O país tem diplomatas e um corpo técnico muito competentes. O que falta talvez é uma narrativa mais diplomática, alinhada com os interesses globais. Ou seja, todo mundo falar o que a gente quer ouvir: eu vou acabar com o desmate ilegal”, disse.
“Nosso interesse, inclusive econômico e estratégico de longo prazo, é que o governo brasileiro vá para a COP defender os interesses do nosso país, falando aquilo que todos querem ouvir: vou mitigar e reduzir as minhas próprias emissões e vou preservar a minha cobertura vegetal. Se você debochar do assunto, nós e outros dirigentes globais vamos nos sentir desrespeitados”, disse.
Taxação para grandes emissões
A União Europeia divulgou recentemente um plano ambicioso para redução de carbono. Um dos pontos que chamou a atenção foi a proposta de taxação sobre produtos importados de países que não têm uma política ambiental adequada na avaliação deles. Para Teixeira, a ameaça representa o “bode na sala” se caminhar para uma decisão unilateral. “Se for para um caminho unilateral, não é bom. Para nós como setor e como país, o efeito é muito pouco porque os grandes prejudicados são o alumínio da Coreia do Sul, a Rússia e os EUA. Taxar é não é a melhor forma”, disse.
Retomada
O executivo conta que a pandemia teve impacto positivo para as receitas da Klabin por conta do forte crescimento na demanda por embalagens, uma das principais linhas de produto, entre outros negócios. A empresa chegou a ter de se explicar por que estava com dificuldade de atender à crescente demanda. No entanto, já tinha previsto investimento em uma nova máquina, que entra em atividade em agosto e que aumentará consideravelmente a capacidade de produção.