(Bloomberg) O calor mortal da última semana no noroeste dos Estados Unidos e na Colúmbia Britânica não teria atingido as mesmas proporções sem a poluição de gases de efeito estufa, segundo climatologistas que realizaram um estudo de resposta rápida da onda de calor.
“Nunca vimos um aumento nos recordes de temperatura nesta onda de calor”, afirmou Geert Jan van Oldenborgh, pesquisador climático do Instituto Real de Meteorologia da Holanda.
O evento foi tão raro que os pesquisadores não conseguiram estimar todas as probabilidades, concluindo apenas que o aquecimento do planeta causado por humanos aumentou a probabilidade em 150 vezes. Os pesquisadores também fizeram uma projeção do futuro. O dióxido de carbono e outros gases de efeito estufa vão aumentar as temperaturas médias do mundo em 1,2°C desde a industrialização. Após mais 0,8°C – o que pode ocorrer até a década de 2040 – ondas de calor desta magnitude poderão ocorrer a cada cinco a dez anos.
Enquanto o calor ainda estava forte, a colaboração de cientistas climáticos conhecida como World Weather Attribution reuniu 27 pesquisadores de sete países para buscar pegadas de poluição por gases de efeito estufa, usando uma abordagem agora padrão. O foco do estudo foi em um único elemento, as temperaturas máximas diárias, segundo impressões dos 9,4 milhões de pessoas que vivem em Vancouver, Seattle e Portland e nas regiões adjacentes. Um sistema com alta pressão extraordinária, ou uma “bolha de calor”, atuou como gatilho meteorológico desse evento. O ocorrido, por si só, foi um recorde, porém mesmo assim não foi um evento totalmente alheio à área.
Cientistas realizaram dezenas de estudos sobre ondas de calor nas últimas duas décadas, e todos indicaram o mesmo: toda onda de calor fica mais provável e intensa devido à mudança climática.
A natureza extraordinária do calor no noroeste do Pacífico dificultou a análise e a tornou de certa forma impossível no momento. Não há um evento registrado que possa ser comparável, afirmam os cientistas. Uma análise convencional do registro de temperaturas constatou que as temperaturas observadas foram 4ºC mais altas do que os dados sugeriram ser possível – um lembrete de que, em se tratando de mudança climática, o passado pode ser um indicador ruim do futuro.
Duas possibilidades formaram a estrutura do trabalho: primeiramente, a onda de calor pode ter sido um evento anormal com uma temperatura um pouco mais alta devido ao aquecimento global, “o equivalente estatístico de muito azar, embora agravado pela mudança climática, afirmaram os cientistas. Isso também pode representar uma mudança na rapidez com a qual o mundo está se aquecendo, uma possibilidade que exige mais estudos.
Levemos em consideração Lytton, na Colúmbia Britânica, que, na última semana, se tornou o símbolo global de mudança climática. O recorde nacional de calor no Canadá foi 45°C e durou 84 anos, até ser superado em 2°C pela pequena cidade em 27 de junho, em mais 3°C no dia seguinte e em outros 3°C no dia 29. No dia seguinte, a cidade foi evacuada, pois o incêndio incinerou quase tudo.
“Não deveria ser possível quebrar recordes por quatro ou cinco graus Celsius. Esse evento é tão extraordinário que não podemos descartar a possibilidade de estarmos passando por ondas de calor que estavam previstas com níveis mais altos de aquecimento global”, afirmou em uma declaração Friederike Otto, codiretor do Instituto de Mudanças Ambientais da Universidade de Oxford.
Os cientistas continuarão refinando a estimativa de que a mudança climática aumentou a probabilidade da onda de calor no mínimo em 150 vezes e publicarão constatações mais definitivas em um periódico revisado por pares.
“O grande problema é que 90% das pessoas esquecem que a probabilidade é ‘no mínimo’ 150 vezes maior”, disse van Oldenborgh. “Espero que isso não aconteça aqui novamente”.
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