Brasília em Off: Câmara só tem interesse em 25% da reforma do Imposto de Renda

Restante da proposta seria penduricalho da Receita Federal que sempre quer aproveitar qualquer chance de aumentar seu controle sobre os contribuintes

Presidente da Câmara do Deputados, Arthur Lira, tem dificuldades para encampar toda a pauta da reforma tributária
Por Martha Beck
08 de Julho, 2021 | 06:24 PM

(Bloomberg) O Congresso tem disposição para votar 25% do texto da reforma do IR encaminhado pelo governo. Os outros 75% da proposta, segundo interlocutor do presidente da Câmara, Arthur Lira, é penduricalho da Receita Federal que sempre quer aproveitar qualquer chance de aumentar seu controle sobre os contribuintes.

Há disposição de votar mudanças no IR das pessoas físicas e jurídicas, além da taxação de dividendos desde que não haja aumento da carga tributária. Ao ouvir que o ministro Paulo Guedes teria uma meta bem mais ousada que essa, o interlocutor lembrou que o ministro não tem voto no parlamento. Lira vê na reforma do IR uma chance de deixar um legado econômico.

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IR das empresas

O Ministério da Economia está disposto a reduzir a alíquota do Imposto de Renda das empresas em 10 pontos percentuais mesmo que o governo não consiga acabar com subsídios e regimes especiais que consomem R$ 40 bilhões dos cofres públicos anualmente. A ideia de Guedes é incluir o fim desses incentivos na reforma do IR nos próximos dias. Mas a equipe econômica sabe do desafio de mexer com grandes empresas com lobbies articulados no Congresso, especialmente às vésperas de um ano eleitoral. Para o ministro, desonerar as empresas para que elas possam investir é prioridade acima de qualquer outra na reforma. O benefício pode acabar sendo feito com o ganho de arrecadação que o governo vê como algo estrutural.

Timing

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O ministro da Economia tem dito a interlocutores que o forte aumento da arrecadação devido à recuperação do PIB favorece o andamento da reforma tributária. Segundo ele, é mais fácil aprovar mudanças em impostos em momentos de cofres cheios. A visão do ministro, no entanto, não é compartilhada por integrantes de sua equipe. Há quem diga que isso não faz a menor diferença num governo que está em seu terceiro ano de mandato e passando por uma crise política. A aposta é que apenas as bondades previstas na reforma, como o aumento da faixa de isenção das pessoas físicas, passem no Congresso até o final de 2021.

Cheiro de pedalada

Uma ideia de antecipar dinheiro da privatização da Eletrobras para atenuar o impacto da crise hídrica nas contas de luz em 2022 começou a circular no Ministério de Minas e Energia -- e a preocupar o Ministério da Economia. Essa antecipação obrigaria o Tesouro a aportar dinheiro na Conta de Desenvolvimento Energético (CDE) na forma de uma securitização do montante de R$ 25 bilhões previstos para ingressar nos cofres públicos num prazo de 10 anos com a operação da Eletrobras. A ideia cheira a pedaladas das quais a equipe econômica quer passar longe.

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Vivendo perigosamente

O governo tem recursos suficientes para financiar o novo Bolsa Família. O problema, segundo o Ministério da Economia, é que uma despesa permanente precisa estar atrelada a uma fonte de receita específica, também permanente. Foi por isso que Guedes decidiu atrelar o programa social à reforma tributária — mesmo a reforma sendo “neutra”, como argumenta o governo. Agora, os dois temas estão amarrados. Ao ouvir que essa solução poderia causar um problema para implementar o programa social caso a reforma atrase, um auxiliar de Guedes afirma que a vida é dura e perigosa. O novo Bolsa precisa estar pronto para funcionar a partir de novembro, quando está previsto o fim do pagamento do auxílio emergencial.

Apoio

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De olho nas eleições de 2022, o presidente Jair Bolsonaro vai a Porto Alegre na próxima semana tentar uma aproximação com grandes empresários do Sul. Na lista de convidados para o encontro estão pesos pesados da economia gaúcha como Taurus, Tramontina, Grendene, Gerdau e Marcopolo.

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