Bloomberg — Nikolay Storonsky demorou sete anos para finalmente deixar o setor de bancos de investimentos, tendo trabalhado no Lehman Brothers e no Credit Suisse Group AG até 2013.
“Como bancário, eu já havia atingido meu desempenho máximo”, afirmou Storonsky, que negociava derivativos de ações para ambos os bancos em Londres. “Então, o trabalho ficou chato”.
Em parte, foi o descontentamento com a carreira que levou o trader russo a cofundar a Revolut Ltd., prestadora de serviços financeiros online. Na semana passada, a Revolut arrecadou US$ 800 milhões de investidores, incluindo o SoftBank Group Corp. e a Chase Coleman’s Tiger Global Management, com avaliação de US$ 33 bilhões. A participação de Storonsky vale cerca de US$ 6,7 bilhões, segundo o índice Bloomberg Billionaires.
Um porta-voz da Revolut se recusou a comentar sobre a participação acionária.
A avaliação da empresa ultrapassou os seis dígitos desde a última rodada em 2020, e a companhia é a mais recente em tecnologia financeira a arrecadar quantias exorbitantes. Em março, a empresa de pagamentos móveis Stripe se tornou a maior startup dos EUA, avaliada em US$ 95 bilhões após a rodada mais recente de captação de recursos. A rival local da Revolut, a Wise Plc, tornou-se uma empresa de capital aberto neste mês por meio de uma listagem direta e atualmente tem valor de mercado de cerca de US$ 13 bilhões, quase o triplo de sua avaliação há 12 meses. Isso gerou certo medo quanto à bolha do setor.
Em rápida expansão
A Revolut se expandiu rapidamente desde que Storonsky, de 36 anos, lançou a empresa em 2015 junto de Vlad Yatsenko, desenvolvedor de tecnologias que atuava no Deutsche Bank AG. O empreendimento começou com a emissão de cartões de crédito pré-pagos sem taxas de transações internacionais, porém os serviços atualmente incluem contas bancárias, transferências para contas internacionais, criptomoedas e negociação de ações, bem como o pagamento de contas e ferramentas de orçamento.
“A ideia sempre foi expandir para além do câmbio”, afirmou Storonksy, formado em física, à Bloomberg em 2017. “Estamos tentando fazer o lançamento o mais rápido possível – e essa velocidade é muito mais importante que estabelecer a nossa meta de crescimento”.
Este modelo de gateway ajudou a atrair jovens usuários que começaram lentamente a expandir seu uso do Revolut.
Owen Barron, de 29 anos, residente de Dublin, na Irlanda, começou a usar o Revolut em 2017. Ele gostou das baixas taxas de transações internacionais e da possibilidade de usos de caixas eletrônicos no exterior. Agora ele usa o aplicativo todos os dias.
“É igual utilizar o Instagram ou o WhatsApp no celular”, disse.
Há cerca de 18 meses, Barron começou a utilizar outra ferramenta do aplicativo: investimentos. Sua primeira negociação foi com a Microsoft Corp.
A única desvantagem que Barron vê no Revolut são as taxas. Ele atualmente usa a conta gratuita, que limita a quantidade de saques. Na Irlanda, ele pode realizar até cinco saques em caixas eletrônicos ou retirar até 200 euros – o que ocorrer primeiro – antes de precisar pagar uma taxa de 2%.
Ferramentas premium
Pedro Coelho paga 12,99 libras por sua conta no Revolut. Sua conta “Metal” proporciona ferramentas premium, incluindo 1% de cashback em criptomoedas, saques gratuitos de até 800 libras em caixas eletrônicos e negociações ilimitadas sem comissões. Ele afirma que este último benefício justifica o custo mensal.
Assim como Barron, Coelho, de 25 anos, gostou do Revolut devido a uma única ferramenta. Ele precisava vender uma passagem da Eurostar em 2018 e o comprador queria que o valor fosse transferido por meio do serviço. Três anos depois, Coelho agora paga pela conta com mais benefícios da empresa.
Os analistas questionam se mais consumidores adotarão o aplicativo.
“Nunca vimos um apetite tão feroz de consumidores dispostos a pagar uma taxa mensal de serviço”, disse Jim Miller, diretor executivo da divisão de serviços bancários e pagamentos da empresa de research J.D. Power. “Então decidimos chamá-la de mensalidade”.
Miller também questiona a adoção de novos serviços pelo Revolut. Os bancos tradicionais sempre utilizaram as contas correntes como uma oportunidade de construir uma relação com os consumidores, esperando que estes acabassem adquirindo hipotecas e seguros.
“Estou no setor de serviços financeiros há mais de 30 anos e, por todo esse tempo, falei sobre chamar essa relação de abordagem do ‘supermercado financeiro’. Durante esse tempo, ficou mais fácil para consumidores ampliarem suas relações”, disse. “De certa forma, isso praticamente organiza as coisas de forma lógica na mente de uma pessoa”.
Escrutínio regulatório
As ambições da Revolut também receberam atenção dos órgãos reguladores.
A agência reguladora financeira do Reino Unido examinou o motivo pelo qual a empresa desligou temporariamente um sistema designado para bloquear transações suspeitas em 2018. Ex-funcionários também relataram problemas, incluindo condições de trabalho que beiravam a exaustão na Revolut, que tinha uma placa de neon nos escritórios que incentivava funcionários – estampando a frase “Façam seu trabalho” – uma reflexão da crença de Storonsky em um futuro do setor financeiro de varejo no qual o vencedor leva tudo.
Mesmo assim, essas ambições renderam muito para Storonsky, pessoa física com maior participação acionária na Revolut. À medida que busca tornar a empresa uma das maiores de serviços financeiros do mundo, ele ainda está cauteloso a respeito dos regulamentos do setor bancário no qual iniciou a carreira.
“Para cortar custos, isso simplesmente não é possível em nosso setor”, Storonsky disse à Bloomberg em 2019.
--Com assistência de Alastair Marsh, Silla Brush, Tom Metcalf, Stefania Spezzati, Andrew Heathcote e Alexander Sazonov.
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