São Paulo — O Brasil deve fechar o 2º ano da pandemia da Covid-19 com mais empresas listadas na Bolsa, marcando um novo recorde nas ofertas de novas ações, em meio a um cenário positivo de retomada econômica com o avanço da vacinação. O volume de IPOs (estreias na B3) e “follow-ons” (ofertas subsequentes, realizadas por companhias com ações já listadas) em 2021 pode superar a expectativa inicial. A XP, uma das instituições financeiras nacionais mais ativas na coordenação de aberturas de capital, aumentou, por exemplo, sua previsão para o total de operações de janeiro até dezembro.
“Acredito que a gente vai ter mais de 100 ofertas, entre IPOs e follow-ons, e também um volume histórico. A gente tinha falado, no início do ano, em R$ 200 bilhões em ofertas, mas acredito que esse número vai ser ultrapassado com a melhora da pandemia, com as reformas que estão sendo feitas pelo Congresso. A gente está com uma previsão agora de R$ 250 milhões em ofertas até o fim do ano”, revela Pedro Mesquita, sócio da XP e Head de Investment Banking, em entrevista exclusiva à Bloomberg Línea.
Até ontem, a B3 contabilizava 43 novas companhias listadas neste ano, acima do número de 2020 (28 estreantes). A fila de empresas à espera da cerimônia de toque do sino no primeiro pregão só aumenta mesmo com a proximidade de 2022, ano de eleição presidencial, evento com tradição de levar maior volatilidade e até turbulências ao mercado brasileiro de capitais.
Eleição
“O ano eleitoral é sempre um ano mais instável, mas a gente tem de lembrar que estamos vivendo no Brasil um cenário de juros super baixos que praticamente o País nunca viveu, o que possibilita sim o mercado de equities, porque o investidor acaba não encontrando rentabilidade na renda fixa”, afirma Mesquita.
Em março, o Banco Central iniciou um ciclo de alta da taxa básica de juros, a fim de conter apostas em uma inflação acima da meta. Em junho, quando o IPCA (inflação oficial) acumulava 8,35% em 12 meses, o Copom elevou a Selic em 0,75 ponto para 4,25%. Foi o 3º aumento do ano. Mesmo assim, o juro real ainda está em patamar historicamente baixo. A próxima reunião do colegiado do BC será nos próximos dias 3 e 4 de agosto, e se espera uma nova elevação.
Na avaliação do sócio da XP, a economia brasileira ainda enfrenta problemas antigos e nem se recuperou totalmente da crise de 2014 a 2017, marcada por uma grande recessão, mas ele se mostra confiante com as perspectivas positivas para o Brasil, como o avanço das reformas estruturais e do combate ao novo coronavírus. “A gente tem um cenário de pandemia muito mais benigno do que teve no ano passado. A gente já está enxergando uma luz no fim do túnel”.
145 mil pontos
A XP trabalha, segundo Mesquita, com uma projeção de Ibovespa, principal índice do mercado acionário brasileiro, próximo dos 145 mil pontos. Ontem, o índice fechou nos 122.202 pontos (-0,66%).
“A gente vê um espaço grande para o crescimento do índice. Visitamos muitas empresas, conhecemos muitos empresários, e todos estão muito otimistas com a rentabilidade e o lucro de suas companhias neste ano”.
Ele considera que o segundo semestre será melhor do que o primeiro para as operações de abertura de capital, com demanda principalmente dos investidores domésticos por novos papéis. “Mais ou menos 75% da demanda de IPO, desde 2019, tem sido de investidores locais”, estima Mesquita.
Para o executivo da XP, a atual onda de IPOs reflete um amadurecimento do mercado brasileiro de capitais, que passou a listar mais companhias de médio porte ou de alcance regional, provenientes de setores ainda pouco representados na Bolsa (como agronegócio e startups) e de outras regiões (como Nordeste e Centro-Oeste).
“O Brasil, que é um país continental, tem menos de 500 empresas negociadas na Bolsa. Para efeito de comparação, o Peru tem quase 300, enquanto a Índia conta com mais de 5.000 companhias listadas. Temos aqui ainda poucas empresas abertas”, compara.