(Bloomberg Opinion) — O Goldman Sachs Group Inc. parece estar determinado a esclarecer que a Flórida não é apenas uma moda passageira do setor financeiro iniciada na pandemia.
O banco, que praticamente é sinônimo de Wall Street, sinalizou no ano passado seus planos de transferir parte de sua unidade de gestão de ativos para o sul da Flórida. Na época, observei que a decisão não sinalizava que o núcleo do Goldman Sachs estava se mudando para uma região mais quente e com menos impostos. Afinal, os investidores não precisam necessariamente do ambiente agressivo que define traders e bancos de investimento, tornando a gestão de ativos uma divisão que naturalmente pode ser transferida para regiões mais baratas.
Aparentemente, esse tipo de caracterização não agradou o CEO David Solomon e o resto da liderança do Goldman, que parece considerar seriamente a ideia de tornar a Flórida a “Wall Street do Sul” depois de um ano que levou as gigantes dos fundos de hedge, como Dan Sundheim da D1 Capital Partners e Scott Shleifer da Tiger Global Management a fazer planos de mudar-se permanentemente para a área. Um detentor de informações privilegiadas relatou na segunda-feira que o banco está nas primeiras etapas de transferir mais de 100 traders e representantes comerciais para West Palm Beach, na Flórida, citando as pessoas com conhecimento dos planos. O mais impressionante foi o seguinte:
As transferências devem incluir os executivos seniores do banco – cerca de 400 sócios que recebem quase US$ 1 milhão e um bônus especial generoso. Diversos sócios já manifestaram interesse, segundo uma das pessoas envolvidas.
Diretores-gerentes ou vice-presidentes com alto desempenho também estão sendo incentivados a se realocar para sinalizar que o escritório não será considerado um retrocesso que prejudica suas carreiras em Wall Street, ainda segunda essa mesma pessoa.
Essa é uma mudança significativa que afeta diretamente algo que profissionais jovens com foco em suas carreiras têm enfrentado. Marc Daniel Davies, da Bloomberg News, relatou uma pesquisa com 6.000 pessoas realizada para a Sharp Corp., que mostrou que mais da metade das pessoas em empregos corporativos com idade entre 21 e 30 anos temem que suas carreiras fiquem estagnadas a menos que voltem para o escritório. Mesmo com toda a produtividade de um modelo híbrido de trabalho, jovens trabalhadores perdem mentorias e conexões essenciais que compensam no longo prazo.
Contudo, no caso de um gigante bancário como o Goldman, apenas estar em um escritório nem sempre é o suficiente. Basta observar a lista de sócios de 2020 da empresa: Todos, exceto um, mora em Nova York (ou Jersey City, Nova Jersey), São Francisco, Londres ou Hong Kong. A lista de sócios de 2018 incluiu localizações geográficas mais diversificadas, como Chicago, Frankfurt, Houston, Estocolmo, Sydney e Tóquio. Ainda assim, os maiores sócios estavam obviamente localizados em Nova York, onde a Goldman estabeleceu suas raízes há mais de 150 anos.
Segundo um relatório anterior de Sridhar Natarajan e Natalie Wong, da Bloomberg, um dos principais destaques da pandemia entre os gerentes do Goldman foi que o banco pode funcionar de maneira eficiente mesmo em locais diferentes. Embora essa constatação seja verdadeira para grande parte do setor financeiro, tentar criar um novo polo que será comparado à própria Wall Street é um feito monumental. De acordo com o relatório do detentor de informações privilegiadas, os executivos seniores do Goldman buscam transferir “blocos” de oito a 10 pessoas que façam parte de uma equipe maior de Nova York. A ideia é trabalhar com colegas próximos em West Palm Beach e viajar para Nova York frequentemente “para encontrar os executivos de Manhattan”.
Aparentemente, os executivos de Nova York ainda ditarão as regras, mesmo se o Goldman contratar alguns executivos para a transferência para o sul. A Wall Street de hoje não vai desaparecer em um dia nem em uma década. Mesmo assim, o fato de que o Goldman está apostando tudo no futuro do setor financeiro na Flórida – liberando a notícia no mesmo dia em que muitos de seus funcionários voltaram oficialmente para a sede em Manhattan – é uma indicação clara de que Nova York não pode ser a capital financeira não contestada para sempre em um mundo pós-covid. Logo, a cidade dividirá o título com West Palm Beach.
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