(Bloomberg) O grupo de comércio mundial do setor aéreo proporá a eliminação de emissões de carbono em termos líquidos até 2050, à medida que a pressão para melhorar as metas climáticas aumenta sobre um segmento que recebe muitas críticas pelo uso de combustíveis fósseis.
A Associação Internacional de Transporte Aéreo solicitará que as companhias adotem a meta no encontro anual em Boston, em outubro, afirmou em entrevista na quinta-feira Willie Walsh, diretor-geral da associação.
Embora companhias aéreas como a IAG S.A., detentora da British Airways, e a Delta Air Lines Inc. e a United Airlines Holding Inc. tenham assumido compromissos de zero emissões, a Aita não atualiza a própria meta desde 2009. Na ocasião, as companhias aéreas prometeram reduzir as emissões de CO2 em 50% até o meio do século, comparadas com os níveis de 2005. Contudo, desse então as emissões aumentaram, motivadas pelo crescimento das viagens aéreas e sendo reduzidas apenas no ano passado devido à pandemia de coronavírus.
“Acredito que o setor vai se alinhar à mudança das metas”, afirmou Walsh, “porém temos que passar pelo processo formal”.
O setor aéreo recebe cada vez mais críticas à medida que o setor automobilístico e de energia avançam rapidamente na redução de emissões, em linha com as metas estabelecidas pelo Acordo de Paris. Antes da pandemia, o sentimento de repulsa por voos causou movimentos de pessoas que limitaram as viagens aéreas e optaram por trens, por exemplo.
Antes da pandemia, o setor aéreo global causava cerca de 2% de todas as emissões de CO2. A queda temporária – porém brusca – devido ao isolamento social provavelmente não afetará a mudança climática, pois o gás fica na atmosfera por centenas de anos.
Walsh argumenta que, embora não existam muitas companhias independentes, é possível atingir zero emissões se os governos, as petrolíferas e fabricantes de aviões fizerem sua parte.
“É inaceitável que outras empresas do setor aéreo mais amplo esperem que apenas as companhias aéreas assumam os maiores compromissos”, afirmou, “nós não construímos as aeronaves nem produzimos o combustível e controlamos o tráfego aéreo”.
Avião a hidrogênio
Um dos desafios de descarbonizar a aviação é a dificuldade em fazer aviões rodarem com combustíveis alternativos.
A Aita pretende fazer com que a fabricante de aeronaves Airbus SE prometa produzir uma aeronave a hidrogênio até 2035 e declarou que o modelo precisa ter um tamanho comparável ao modelo mais vendido – A320 de fuselagem estreita, com capacidade para 150 pessoas – e alcance de no mínimo 1.000 quilômetros (621 milhas).
“Na verdade, se tivermos uma aeronave a hidrogênio até 2035, isso não vai mudar as coisas radicalmente, pois provavelmente essa aeronave será para voos de curta distância”, afirmou Walsh.
Os governos e as petrolíferas também devem aumentar seus investimentos em combustíveis sustentáveis para aviação, o que é considerado essencial para reduzir as emissões na próxima década, e os países europeus devem se unir para formar uma única área de controle de tráfego aéreo para otimizar rotas e reduzir a emissão de CO2 de uma vez.
O Acordo de Paris de 2015 comprometeu quase 200 países a estabilizar o aquecimento global “muito abaixo” de dois graus Celsius, comparado a níveis pré-industriais, com meta de no mínimo 1,5 grau Celsius. A atitude também prevê que todas as emissões humanas caiam para zero durante a segunda metade deste século.
Contudo, a aviação internacional não foi mencionada especificamente nem contabilizada nas metas nacionais. As metas relacionadas à aviação serão assumidas em nível nacional por cada país.
As emissões de CO2 atingiram cerca de 915 milhões de toneladas em 2019, segundo o Grupo de Ação de Transporte Aéreo, grupo do setor com foco em questões ambientais.
Com base nos níveis de 2005, a atual meta da Aita é que as companhias reduzam as emissões de carbono para 325 milhões de toneladas até 2050. Walsh afirmou que atingir zero emissões representaria apenas uma pequena mudança, considerando a orientação estabelecida em 2009.
Recuperação e táxi aéreo
Walsh deu uma entrevista abrangente. Outras questões abordadas foram:
- Retorno do setor: Walsh está otimista quanto à atual estimativa da Aita de um prejuízo de US$ 48 bilhões para o setor em 2021. O segundo semestre vai ser melhor para a Europa, considerando o ritmo de vacinação, porém as rotas transatlânticas estão reabrindo mais lentamente. Ele considera que os Estados Unidos abrirá as fronteiras para europeus “provavelmente em julho”.
- O governo do Reino Unidos “não fez nada específico para o setor aéreo. Então eu não sou otimista quanto à sua contribuição no futuro” em termos de apoio financeiro.
- Os super polos do Oriente Médio ainda são “muito importantes” e serão mais relevantes pós-pandemia – tornando-se ainda mais valiosos mesmo com menos voos diretos disponíveis.
- Ceticismo quanto à viabilidade do negócio de táxi aéreo, mas sem dispensar a possibilidade.
- A China ainda é uma “participante com um futuro muito confiável” na fabricação de aeronaves e “claramente obstinada para atingir esse status”; a aeronave Comac C919 provavelmente não terá muita demanda fora do mercado interno
--Com assistência de Siddharth Philip e Layan Odeh.
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