(Bloomberg) — Apesar de toda a evidência do boom de commodities, alguns mercados eliminaram os ganhos do ano, e muitos outros estão próximos do mesmo destino.
Os futuros de soja apagaram seu adiantamento de 2021, com uma queda de mais de 20% após uma alta de oito anos encerrada em maio. O milho e o trigo também caíram após uma alta de anos. O Bloomberg Grains Spot Subindex sofreu a maior queda desde 2009 na quinta-feira. Outras commodities que tiveram ganhos eliminados incluem a platina, o níquel, o açúcar e até a madeira.
O fato de que alguns mercados de commodities estão em queda ao passo que outros – incluindo o de petróleo bruto e estanho – estão em alta enfatiza a desigualdade nas respostas desses mercados à reabertura e expansão das economias. Embora esses materiais tenham forte demanda, outros enfrentam os próprios desafios, como a queda na oferta de soja e a política monetária incerta no caso de ouro e prata.
Alguns materiais sofreram forte queda nesta semana devido aos esforços da China para desacelerar a inflação e aos sinais do Federal Reserve de aumento nas taxas de juros, com o aumento do dólar e o Bloomberg Commodity Index encaminhado para sua pior semana desde o início da pandemia.
“O risco se deve à postura hawkish – que significa defender a alta dos juros – do Fed, que ocorreu logo após as diretivas do governo chinês nas semanas anteriores”, afirmou Michael Cuoco, chefe do setor de vendas de fundos de hedge para metais e materiais a granel da StoneX Group. “Os estímulos do banco central ajudaram os mercados a permanecer à deriva no início de 2020, e agora ocorreu um reset na macroeconomia”.
Mesmo alguns mercados que claramente estão se beneficiando com a reabertura estão sofrendo retração, e o cobre vai passar pela pior semana em mais de um ano. A redução de muitas matérias-primas ocorreu após o indicador de commodities da Bloomberg atingir altas por muitos anos. Analistas, incluindo da Trafigura Group, afirmaram que a baixa oferta e a alta demanda apontam para a possibilidade de outro super ciclo – um longo período no qual os preços estão bem acima da tendência de longo prazo.
Um indicador do dólar aumentou os ganhos na quinta-feira após a maior alta em um ano na quarta-feira, tornando as commodities menos atrativas para investidores que já detêm outras moedas. Uma grande queda de muitas commodities e a sazonalidade representam a recente queda conforme a rolagem os contratos de futuro.
A China intensificou sua campanha para conter os preços e reduzir a especulação em uma tentativa de diminuir a ameaça do aumento dos custos das matérias-primas à economia. O maior planejador econômico do país reafirmou na quinta-feira sua intenção de amenizar as commodities e liberar oportunamente os metais das reservas de estado para levar os preços a uma faixa normal.
O clima ameno em mais regiões também tem afetado os preços de muitos produtos agrícolas. As chuvas recentes levaram os futuros de milho à projeção de maior queda mensal desde 2011 e os de soja, à maior desde 2016.
Ricochetes
“A volatilidade que vemos no momento se deve totalmente ao clima”, afirmou Stephen Nicholson, analista sênior de Grãos e oleaginosas da Rabobank, por entrevista por telefone na quinta-feira. “Nas últimas semanas os preços têm ricocheteado todos os dias”.
A queda dos preços de muitos recursos piorou nesta semana, após as autoridades acelerarem o ritmo esperado de endurecimento, alimentando a preocupação de que o banco central dos Estados Unidos logo reduziria o estímulo que ajudou a estimular os ganhos em metais, agricultura e energia.
Mesmo assim, os setores de energia e metais industriais, que ganharam muito com as apostas de que a reabertura da economia incentivará a demanda, ainda estão bem acima do nível no qual começaram o ano, e alguns analistas afirmam que é improvável que a alta diminua significativamente.
“Acreditamos que estamos no início de um forte ciclo de commodities de uma década semelhante ao ciclo que ocorreu do fim dos anos 90 até 2008”, afirmou Jason Bloom, estrategista de mercado global da Invesco, que supervisiona US$ 1,4 bilhão em ativos para clientes. “As restrições da oferta estão relativamente isoladas da linguagem do Fed em uma reunião. A China pode mexer nos preços no curto prazo ao liberar as reservas, mas não consegue controlar os mercados”.
(Atualizado com a queda do Bloomberg Grains Subindex no segundo parágrafo)
--Com assistência de Kim Chipman.
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