Mercado Livre amplia crédito em 46% em um ano: ‘foi em cima de dados’, diz executivo

Gigante de tecnologia cruzou dados internos com outros trazidos via Open Banking para concluir que era possível ampliar linhas de crédito, disse Richard Cathcart, diretor de RI, à Bloomberg Línea

Centro logístico do Mercado Livre: aumento das receitas para US$ 4,3 bilhões no primeiro trimestre de 2024
02 de Maio, 2024 | 09:34 PM

Bloomberg Línea — A carteira de crédito do Mercado Livre (MELI) cresceu 46% no primeiro trimestre de 2024 em relação ao mesmo período do ano passado, para US$ 4,4 bilhões, e em ritmo mais acelerado do que nos três meses finais de 2023, com impulso das operações no Brasil e no México.

O motor dessa expansão foram as emissões de cartões de crédito. O Mercado Pago emitiu um milhão e meio de cartões no primeiro trimestre.

“Estamos bem contentes com o desempenho de cartão de de crédito. A penetração continua a aumentar, principalmente no México, país onde a penetração é bem mais baixa do que no Brasil”, disse Richard Cathcart, diretor de Relações com Investidores do Mercado Livre, em entrevista à Bloomberg Línea.

Cathcart disse que a empresa está confortável com os indicadores de inadimplência, que aumentou de 8,2% no quarto trimestre para 9,3% no primeiro trimestre para os atrasos até 90 dias.

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“O aumento de inadimplência foi uma consequência das datas, pois a Páscoa caiu neste ano no primeiro trimestre. Isso significa que não conseguimos ligar para as pessoas que estão com pagamento atrasado. Tivemos que estender algumas faturas para abril, foi um efeito de sazonalidade”, explicou.

Outro motivo do crescimento da inadimplência foi a aceleração da originação. “Estamos tomando um pouco mais de risco”, disse Cathcart, explicando que isso se traduziu no aumento da inadimplência.

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“Isso está contemplado nas taxas de juros que cobramos. Quando se olha a métrica que é basicamente a receita das taxas, menos a inadimplência e o custo, isso ficou bem estável, até melhorou um pouco no primeiro trimestre de 2024 quando comparado a 2023″, disse.

A decisão de tomar mais risco teve relação com a análise de dados pelo Mercado Livre, segundo Cathart, mais do que com uma eventual melhora do quadro econômico ou das expectativas.

“Com essa carteira estamos combinando os dados internos que temos dos consumidores com alguns dados que trazemos de fora, principalmente via Open Banking no Brasil. Quando juntamos essas duas fontes de dados, vimos que conseguimos aumentar o tamanho das linhas de crédito”, disse.

Crescimento do Mercado Ads

O Mercado Livre também destacou que a receita do Mercado Ads no primeiro trimestre aumentou a tal ponto que correspondeu a 2% do GMV (volume bruto transacionado na plataforma e o equivalente a US$ 228 milhões). “No primeiro trimestre, a receita de Ads cresceu 64% em dólares”, disse o executivo.

No quarto trimestre de 2023, a receita de Ads havia sido equivalente a 1,6% do GMV; e, no primeiro trimestre do ano passado, a 1,4%.

No segmento de fintech, o Mercado Livre observou um crescimento expressivo tanto no número de usuários ativos mensais (+37%) como no volume de ativos sob gestão (+90%).

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A receita líquida do Mercado Pago atingiu US$ 1,8 bilhão, o que representou um aumento de 22% em dólares em comparação com o primeiro trimestre de 2023.

Em outra linha de negócios, do programa de fidelidade Meli+, o executivo de RI disse que a empresa tem visto “as tendências que queríamos ver”. “Quando um consumidor entra no programa, temos aumento da frequência de compra e do GMV.”

Acima de estimativas

O Mercado Livre superou quase todas as estimativas de mercado no primeiro trimestre. Houve um aumento na receita líquida de 36% em dólares, para US$ 4,3 bilhões. O lucro líquido subiu 71% em comparação com o mesmo período do ano anterior, totalizando US$ 344 milhões.

A gigante de tecnologia entregou um lucro por ação de US$ 6,78, acima do consenso de projeções da Bloomberg de US$ 6,20. Da mesma forma, o GMV excedeu as estimativas e atingiu US$ 11,4 bilhões.

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O crescimento do GMV foi particularmente robusto no Brasil e no México, com aumentos de 36% e 42%, respectivamente, em dólares. Foi impulsionado pela expansão do número de compradores únicos e pelo aumento das vendas de itens, refletindo a crescente demanda nessas regiões.

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“Temos níveis de recorde de conversão, ou seja, de quantas pessoas que entram no site e efetivamente fazem uma compra. A entrega mais rápida significa que as pessoas compram mais. Isso é fruto de uma série de investimentos que temos feito ao longo dos últimos anos”, afirmou o executivo.

Impacto da Argentina na margem

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Apesar dos resultados positivos, o desempenho da empresa na Argentina foi impactado pela recessão e pela inflação, resultando em um crescimento mais lento nesse mercado.

A receita na Argentina caiu 20% em relação ao ano anterior devido à desvalorização do peso argentino e ao ambiente econômico desafiador. Ele afirmou que a empresa entregou uma melhora de margem significativa no Brasil e no México, mas o efeito negativo da Argentina “foi muito grande”.

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“O crescimento da receita foi acima de 30% ano contra ano e isso foi consequência do desempenho muito bom no Brasil e no México”, disse Cathcart. “O Brasil cresceu acima de 50%, e o México também. Mas o efeito do peso argentino trouxe o crescimento consolidado para baixo.”

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Isabela  Fleischmann

Jornalista brasileira especializada na cobertura de tecnologia, inovação e startups