Expectativa de trabalho remoto e híbrido perde força no país, aponta pesquisa

Menos de quatro em cada dez trabalhadores disse acreditar na adoção de qualquer um dos dois modelos por empresas no país, segundo estudo da plataforma Futuros Possíveis

Home office em jornada remota ou híbrida é menos provável, segundo expectativas de brasileiros apontadas em nova pesquisa (Foto: Stefan Wermuth/Bloomberg)
01 de Maio, 2024 | 05:16 PM

Bloomberg Línea — Mais de quatro anos após o início da pandemia, os modelos de trabalho híbrido e remoto estão presentes em diversas empresas brasileiras. Mas as expectativas sobre a sua adoção perdem força, ao menos do ponto de vista dos próprios trabalhadores. É o que aponta uma nova pesquisa da plataforma Futuros Possíveis.

Praticamente quatro em cada dez profissionais entrevistados (veja metodologia abaixo) dizem que acreditam na predominância do modelo remoto (38%) ou híbrido (37%) no futuro. Na pesquisa de 2023, os que diziam acreditar no modelo remoto chegavam a quase metade dos entrevistados (47%).

“Adotar o remoto e o híbrido dá trabalho para as empresas. É difícil promover colaboração e desenvolver as pessoas em modelos que não são presenciais. Não basta só a entrega do que é esperado”, disse Angelica Mari, cofundadora e CEO da Futuros Possíveis, em entrevista à Bloomberg Línea.

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“Por outro lado, empresas não podem abandonar tais modelos porque isso pode representar uma forma importante de retenção e atração de talentos”, disse a especialista em tecnologia e inovação.

Questionados sobre que modelo de trabalho adotariam se pudessem escolher, os entrevistados revelaram um empate técnico (dentro da margem de erro) entre um que fosse 100% presencial (22% do total) e outro 100% remoto (21%). No meio do caminho, 57% disseram que escolheriam um modelo híbrido.

Ao apontar as razões para a escolha do modelo presencial no escritório, os entrevistados citaram “facilidade de comunicação” (22% das respostas) e “produtividade e interação social” (21%); por outro lado, no caso do home office, “economia no tempo de transporte” (46% das respostas) foi apontado como o motivo mais comum, seguido por “produtividade” (30%).

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Outro ponto destacado pela especialista foi o aumento do percentual dos entrevistados que trabalham em modelos híbrido ou remoto que disseram sentir falta de convívio social - subiu de 50% em 2023 para 55% neste ano. Essa queixa se mostrou ainda maior entre homens e trabalhadores do Nordeste.

A pesquisa “Futuro do Trabalho 2024: onde estamos e para onde vamos”, que contou com o apoio do Grupo Boticário, também joga luz sobre os modelos de jornada mais adotados na população.

O equivalente a 9% dos entrevistados disse trabalhar de forma 100% remota, enquanto a ampla maioria da amostra - cerca de dois terços, ou 64% - contou que tem trabalhado de forma presencial. Outros 27% disseram que estão em um modelo híbrido, que concilia o home office com o presencial.

“É importante pontuar que o trabalho remoto é um privilégio no Brasil. É uma bolha que inclui pouco pessoas de classes mais vulneráveis e pretos e pardos. E que está presente com mais oportunidades em algumas áreas, como as de tecnologia, marketing, conteúdo”, disse Angelica.

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A pesquisa contou com entrevistas com 2.011 pessoas pelo Opinion Box, com mais de 16 anos, de todas as classes sociais, que trabalhavam ou procuravam emprego no período de coleta dos dados, entre 19 e 29 de fevereiro. A margem de erro é de dois pontos percentuais.

Uma pesquisa realizada pela Harris Poll no mercado de trabalho americano também em fevereiro, com 2.066 pessoas, noticiada anteriormente pela Bloomberg News, apontou razões diferentes para a escolha da volta ao trabalho presencial versus o remoto.

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A preocupação com eventual falta de progressão na carreira, como ser preterido em promoções, ou até o risco de demissão, foi um fator apontado por cerca da metade dos trabalhadores em regime híbrido que voltaram ao presencial. Entre aqueles que estão em regime remoto esse fator também se mostrou uma percepção recorrente, sendo citado pela metade dos entrevistados.

No mesmo contexto de queda de expectativas sobre a adoção dos modelos híbrido e remoto, a pesquisa no Brasil revelou que, para metade dos entrevistados (50%), empresas em geral não estão preparadas para o home office; e, para 38% do total, não estão prontas para o híbrido.

“Empresas estão revisando os modelos de operação delas para o longo prazo”, disse a CEO da Futuros Possíveis. “Essa revisão parece levar para um modelo mais híbrido do que o remoto que vimos durante a covid. A exceção são as startups, especialmente as que nasceram justamente na pandemia.”

A pesquisa também revelou que não há um modelo predominante para o trabalho híbrido no país. Para 30% do total dos que estão nessa configuração de jornada, não há um número de dias fixado seja para o remoto ou para o presencial; a seguir veio a resposta que prevê três dias no escritório e dois em casa.

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Marcelo Sakate

Marcelo Sakate é editor-chefe da Bloomberg Línea no Brasil. Anteriormente, foi editor da EXAME e do CNN Brasil Business, repórter sênior da Veja e chefe de reportagem de economia da Folha de S. Paulo.